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Mostrando postagens de maio, 2020

Quatro poemas de Ésio Macedo Ribeiro - do livro UM OLHAR SOBRE O QUE NUNCA FOI:

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}1{ ||||||||||||||||||||||||||||||||||||| você deve querer sua vida como eu quero a minha / cuide dela / da sua / eu faço da minha a melhor // a vida nos foi dada / a sua / a minha / mas ela requer adubo poda rega como qualquer uma // a vida deve ser pintada todo dia porque o sol sempre vai embora / é preciso correr atrás da luz como aquele holandês doido / é preciso pôr no papel como aquele norte-americano que falou da relva / é preciso esculpir como aquele francês que teve uma mulher louca // não é à toa que a vida / esta coisa infinita de nasce-renasce / precise sempre // é preciso dar-se a ela / contemplá-la / beijá-la como quando se olha para as estrelas / como se leva os lábios aos rostos e bocas // a vida é sua / tome-a / então / como se toma um livro na livraria / e depois o lê e o guarda // a vida é muito maior que a morte / que é só um flash / a vida demora / mas não se pode cansar dela / como se pode cansar de comer e beber e de abraçar os que vêm //

Três poemas de Natália Agra

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Silêncio a casa estava tão vazia que dava para ouvir o tique-taque de três relógios diferentes Noite de São João Para Emanuella Helena, que se foi cedo demais (in memoriam) Yesterday the sky was you And I still feel the same               Billy Corgan permanecemos aqui anestesiados de imenso frio nesta noite de São João regressamos pela manhã lareira ainda quente aquecida pelo canto da cotovia muito de nós dois pelos cantos fechados da casa o quarto vazio e seus brinquedos enquanto você esteve aqui ocupou com pequenas palavras as borboletas Alejandra Pizarnik teu nome, impossível primavera canta furioso com uma só pétala a música que toca a pele úmida ausência repousa nas mãos das nuvens teu corpo sobre a água apenas teu nome emana     flores        flora             cornucópia Natália Agra é poe

Seis poemas de Chris Herrmann

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Christaleira é nela que guardo meus cacos vitrais para juntar à noite enlouquecida embevecida das nossas transparências Jangada ia se jogar no mar quando viu aquela jangada.  parou e fechou os olhos. brisa e maresia de mãos dadas contaram-lhe muitas histórias ) em ondas de intervalos ( de outras insólitas solidões.  deixou-se embarcar naquele silêncio : não estava mais sozinho. Sonho de Dante sentia-se no quinto dos infernos em seu sonho de quarta dimensão  chorava a última lágrima de sangue acordava então seu sexto sentido seu paraíso interno seu primeiro sorriso Pegadas As ondas da praia desmancharam as nossas pegadas. Uma parte de mim ainda vaga por lá... Formou-se enseada pra sentir a tua brisa deixada à beira amar. Canto há cidades, ruas esquinas públicas definidas no mapa por onde a multidão se desencontra mas há um canto onde me encontro num tom indefinido de pr

Cinco poemas de Alberto Lins Caldas

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erhaben ● sim - a torrente ta mais violenta e acre - ● ● os sapos saltam mortos nas margens - ● ● os peixes boiam - depois a escuridão - ● ● isso q se estende não quer conversa - ● ● mortos se separam em ossos e carnes - ● ● são as carnes q nos comemos alegres - ● ● com os ossos erguemos nossas casas - ● ● com o medo os dias - todas as noites - ● ● isso q se estende não quer conversa - ● ● sim - a torrente ta mais violenta e acre - ● ● de manhã bem cedo bebo meu sangue - ● ● depois trabalho o dia inteiro - sim sim - ● ● outros tambem chupam meu sangue - ● ● volto quase morrendo - sem força sim ● ● os peixes boiam - depois a escuridão - ● ● os sapos saltam mortos nas margens - ● ● a qualquer momento dançarei no rio - ● ● sem sangue - ossos elegantes e finos ● ● separados das carnes - todas mordidas ● ● por essa fome - o trabalho - a insonia - ● ● depois q devoramos os filhos os filhos - ● ● curvados servos do horror - sem saber ● ● sem s

Cinco poemas de Patricia Laura Figueiredo

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sair sair do país como se sai de um buraco músculos flácidos dedos inchados sair falando baixo riscar o muro com o sangue coagulado pedra por pedra empurrar a terra de volta pro buraco cobrir com mato o ar esgotado sair bem rápido ofegante e machucado livre e desconfortável sair envergonhado * falta mesmo nessa outra pele essa outra língua esse outro buraco mesmo se raso e claro mesmo se nesse frio o odor de sangue desse lado mesmo se entre bombas onde não se morre ainda meu corpo em cada metro dessa estrada cada pulo cada pata agora não há mais nada nem o perigo mais corrosivo o q humilha e q cala agora só essa estrada essa luz tua risada nossa casa * sinos ainda existem sinos q sonam nos passos mancos dos mansos ainda os mesmos balanços  de acalanto e resistência  em braços de sono e sono ainda o barulho dos t