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Mostrando postagens de abril, 2020

Cinco poemas de Morvan Ulhoa

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Hipotermia na Terra do Fogo vazios rígidos circundam a teia inexata do amor o sol aprisionado observa a severidade austral extremidades meridionais do desejo partem-se em densas lâminas de adeus sinto frio e saudade seu beijo é meu divã (do livro “Sobretudo Poesia“) Após silêncio, reticências um ectoplasma enfartado de cor gravita grávido de luz enquanto meus olhos orbitam as valas escuras de sua nudez e enxertam o imaginário perdido no caminho entre mim e o que vejo (do livro “Entre mim e o que vejo”) A pressa é amiga da imperfeição então ela virou o rosto e deixou sorrir os olhos orientais foi a senha entrelinhada para um beijo-haicai (do livro “v ão”) Marcas de batom nem toda a beleza leve de uma quase noite debruçada sobre as ruas da cidade salvou de você ou que era nosso sem nada por dizer desenhou a ime

Três poemas (para depois) de Silvana Guimarães

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aos que vão viver pássaros peixes & angústias explodem nas esquinas corpos cegos sorrateiam o desejo brutal nas noites caladas um punhal aceso entrecorta os cantos mais sombrios fome & vento sede & fogo em um ajuste de contras as cartas na mesa a coreografia das roupas no varal o sol entre os dedos não amainam o dó estrídulo no peito da vida as lâmpadas são a invenção mais imoral e as pessoas são mistérios: todos indecifráveis   entulhos acordar andar respirar procurar a poesia esquecida em um lírio atrás das estrelas apreender o otimismo de platão aristóteles leibniz  hegel  & lou reed desvendar com freud as razões : para vasculhar a pele em busca do que espremer do que torturar embarcar em canoas furadas ou comer gato por cachorro & se esfolar em becos sem luz: enquanto desaba à procura da poesia esquecida em um lírio atrás das estrelas

Quatro poemas de Henrique Duarte Neto

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Quadra ultrarromântica Ah, a memória que tenho de nós dois Sobrevive em fragmentos, flashes. Amor? Partilha? Enlevo? Paixão? Não! Incêndio da carne chamado tesão. Elegia pelo que não foi, mas poderia ter sido Os poemas recônditos na alma Que jamais chegaram a ser lidos. Os poetas que foram perdidos Para as atividades cotidianas. Os amores avassaladores Rompidos pelas convenções sociais. Os óvulos não fecundados Por pura questão de acaso Ou de probabilidade. Talvez seja eu o único a lamentar Por esta realidade não-efetivada. Por enxergar na chuva somente A continuação de minhas lágrimas. E por perceber que em cada Belo momento da vida Outros tantos se perderam, Na virtualidade do tempo, Gerando um vazio insuportável. Abismos: poema niilista Sinto em mim um buraco n’ alma. Uma desmesura que não encontra Desafogo, e que me faz sucumbir. Profeta cotidiano do tédio e da dor,

Cinco poemas de Leonel Delalana Júnior

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Queria ver o pôr do sol e uma acauã robusta, fidalga com um ramo de oliveira no bico voando em círculos helíaca ao infinito: subindo, subindo, subindo… onde o nada absoluto numa insignificante frouxidão bastasse um menino soltando pipa… (onde pipas não colidissem com helicópteros) um arrebita-rabo assobiando longamente e sem culpa sob a tarde vermelha um rio-serpente riscando vértebras e segredos ao vento pequenos seixos explosivos iluminando o mar Do medo do esboço das paredes frias que quase nada dizem das futilidades  [(da beleza) do amor do medo da campainha tocar no momento em que consigo [sorrir às vezes a vejo caminhando ao longe chutando pedrinhas o concreto absurdo do possível Made medusa de todo medo, de todo desejo da carne, de toda regra, na fé propagada aos ares, velozes serpentes no jardim, vísceras de um monstro maior desta dinastia navegante, não