Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2019

Três poemas (de autoajuda) de Silvana Guimarães

Imagem
leão I. ele vai te chamar de rainha, te dar água fresca comida farta II. vai te consumir em ciúme unha-de-fome em volta de você, envaidecida, te sufocar de amor III. quantas não dariam o mindinho por um romance assim carne-e-unha? : vai te lembrar todos os dias IV. você sonsa e zonza vai descobrir que há tempos perdeu a chave da porta e o lar onde reina não tem janelas V. prometeu amor eterno vai cumprir até a morte: a sua ele vai te espancar matar VI. silêncio VII. o rei dos animais vive muito mais nas jaulas que nas matas depois do vendaval começar a estudar geografia humana para entender as distâncias fazer cálculos de estatística para banalizar os prazos de validade recolher os quatro elementos para asfixiar a revoada de pássaros no meu peito comer um saco de sal para juntar os cacos de cristal dentro de mim esperar o galo cantar para te negar três vezes repara: q

Três poemas de Assionara Souza

Imagem
Três poemas de Assionara Souza A palavra impressa Transfere-se, violenta, Da página para os olhos Leio teu nome E agita-se em mim O lago das sensações Teu nome: essa pedra Lançada com força Na vidraça anônima dos dias Teu nome: esse pássaro-palavra Dissolvendo com seu voo A matéria bruta da dor Q uando quiser encontrar alguém Leve sua música, esqueça as palavras Existe uma música em toda presença A música deseja abraçar a multidão E com esse abraço, chamar para a dança Quando quiser encontrar alguém Esteja pronta para ouvir a música As palavras que saem do corpo vão distrair As palavras que saem do corpo Querem mesmo é levar o corpo Para um lugar distante do corpo A moça de vestido verde-esmeralda Poderia ter saído de um quadro do Klimt Os olhos da mesma tonalidade do vestido Sofrem a vertigem da cor Como os suicidas que encontram o chão Depois de uma longa e infinita queda A beleza desmaia sobre su

Cinco poemas de Diana Junkes

Imagem
domingo em guadalupe doze soldados da paz rostos ocultos vestes verdes resguardam o azul de domingo em guadalupe arcanjo nenhum poderá salvar os ouvidos as rosas as famílias o ar dos esturros protetores dos fuzis a justiça dos soldados perfura o corpo negro até a medula: ossos esfacelados os olhos ocos nas órbitas acordes encarnados transbordam da pele feito rios a mandíbula da justiça mastiga o fígado os rins o ventre a voz as rotas cordas do cavaquinho com oitenta dentes dourados naquele abril em guadalupe sob o sol a pino de domingo os braços da justiça escavam o homem pelas costas os dedos de cobre e chumbo laceram a carne amordaçam os lábios que jamais beijarão o filho que ainda vai nascer é preciso proteger a paz em guadalupe as rosas as famílias o sol a pino não podem destroçar as penúrias do domingo é preciso proteger a paz (a qualquer custo) em guadalupe deus é grande o estado maior