Cinco poemas de Morvan Ulhoa










Hipotermia

na Terra do Fogo
vazios rígidos
circundam a teia inexata do amor

o sol aprisionado
observa a severidade austral

extremidades meridionais do desejo
partem-se em densas lâminas de adeus

sinto frio e saudade
seu beijo é meu divã

(do livro “Sobretudo Poesia“)











Após silêncio, reticências

um ectoplasma enfartado de cor
gravita grávido de luz
enquanto meus olhos orbitam
as valas escuras de sua nudez
e enxertam o imaginário
perdido no caminho
entre mim e o que vejo

(do livro “Entre mim e o que vejo”)











A pressa é amiga da imperfeição

então ela virou o rosto
e deixou sorrir
os olhos orientais

foi a senha entrelinhada
para um beijo-haicai

(do livro “v ão”)











Marcas de batom

nem toda a beleza leve
de uma quase noite
debruçada sobre as ruas da cidade
salvou de você ou que era nosso

sem nada por dizer
desenhou a imensidão do fim
com um beijo frio em meus lábios
e adernou o rosto
nas águas turvas do silêncio

(do livro “Ainda há uma saída)












Pela hora da morte

Sinto ter morrido tantas vezes ultimamente
Tantas foram as vezes ditas em meu ouvido:
Você morreu pra mim!

De posse dessa imaterialidade
É espantoso ver em movimento
A imagem ressuscitada no espelho

Por sorte
Nas tantas entremortes
ainda vejo mais estrelas do que céu

(para um próximo livro)









Morvan Ulhoa é poeta e artista plástico, componente do Cadastro de Entes e Agentes Culturais da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, nas áreas de Artes Plásticas e Literatura. Suas poesias estão publicadas em antologias e revistas especializadas (ex.: Germina – Revista de Literatura & Arte; Portal de Poesia Iberoamericana, coletânea de poesias da Universidade Federal de São João Del-Rei, Coletânea de Poesias de Ovar/Porturgal, entre outras). Individualmente, publicou quatro livros de poesias (Sobretudo poesia, 2006; Entre mim e o que vejo, 2011; Vão, 2013; Ainda há uma saída, 2017). Do conteúdo dessas publicações, há diversas poesias premiadas, por exemplo: menção honrosa no concurso “Dar Voz à Poesia”, em Ovar-Portugal, em 2007; finalista do prêmio nacional SESC de poesias de 2008, 2010 e 2011 (3º colocado); 1º colocado no Concurso Nacional Novos Poetas (2014).






Imagens: Maria Leontina


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