Seis poemas de Chris Herrmann




Christaleira

é nela
que guardo
meus cacos
vitrais

para juntar
à noite
enlouquecida

embevecida
das nossas
transparências





Jangada

ia se jogar no mar
quando viu aquela jangada. 
parou e fechou os olhos.
brisa e maresia de mãos dadas
contaram-lhe muitas histórias
) em ondas de intervalos (
de outras insólitas solidões. 

deixou-se embarcar naquele silêncio
: não estava mais sozinho.





Sonho de Dante

sentia-se no quinto
dos infernos

em seu sonho
de quarta dimensão 

chorava a última
lágrima de sangue

acordava então
seu sexto sentido

seu paraíso interno
seu primeiro sorriso





Pegadas

As ondas da praia
desmancharam
as nossas pegadas.

Uma parte de mim
ainda vaga por lá...

Formou-se enseada
pra sentir a tua brisa
deixada à beira amar.





Canto

há cidades, ruas
esquinas públicas
definidas no mapa
por onde a multidão
se desencontra

mas há um canto
onde me encontro
num tom indefinido
de pranto e riso
que é só meu





Silêncio

carrego nas tintas
(e no canto dos olhos)
essa saudade imensa
calada a duras penas
no intervalo do poema
que já não me cabe



[Poemas do livro Gota a Gota - Ed. Scenarium, 2017]










Chris Herrmann é musicista, editora, escritora/poeta carioca, radicada na Alemanha desde 1996. No Brasil, estudou Literatura, Música e Webdesign. É pós-graduada em Musikgeragogik na Alemanha. Organizou e participou de diversas antologias de poesia. É autora dos livros de poesia Voos de Borboleta, Na Rota do Hai y Kai, Gota a Gota, Cara de Lua e dos romances Borboleta – a menina que lia poesia e Peccatum. Tem poemas publicados (algumas também colaborou como autora) nas revistas eletrônicas Algo a Dizer (colaboradora), Zona da Palavra, Blocos Online (colunista), Revista Plural – Scenarium (colaboradora), Mallarmargens (colaboradora), Germina, Ruído Manifesto, entre outras. É editora da revista Ser MulherArte.

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