Cinco poemas de Ana Valéria Fink

A ÁGUA DA PIA a água da pia, em círculo, vai pelo ralo. e eu não tenho a tampa... assim, a vida. passando, correndo, voando, escoando depressa, sem que nada a detenha. a vida, líquida, escoando pelo ralo. e eu não tenho a tampa... DESAMPARO vida traça-me trilha na areia. há vento por aqui. DRAMA EM DOIS ATOS I ATO você no proscênio eu, voluntária, na coxia apoio pra sua alegria II ATO seu decesso involuntário me resta o camarim onde ensaio reinterpretar a mim sem concepção de adereço nem cenário. sem ponto. você, roteiro de onde não volto. (o Grande Dramaturgo pregou-nos uma peça: nessa desídia transcreveu em tragédia o gran finale .) BONS TEMPOS bons tempos aqueles em que dos sonhos ruins despertava em seu abraço – sua insônia fazia-me vigília. agora é quando abro os olhos que o pesadelo me acomete. COMPAIXÃO coro(n)ad...