Postagens

Mostrando postagens de junho, 2020

Sete poemas de Ademir Assunção

Imagem
  OS SETE MONÓLOGOS INTERIORES  DE LILI MACONHA   ELA, COM SEU CASACO FELPUDO (primeiro monólogo interior de Lili Maconha) Eu tento, mas muitas vezes perco o jogo. Ela chega e se instala. Ela. Com seu casaco felpudo, escuro e grosso. Sylvia Plath: "Às vezes me sinto oca. É como se não tivesse nada atrás dos meus olhos". Eu sei o que isso significa. Às vezes faz muito frio do lado de fora. Do lado de dentro também. MICOSE NA PELE DO TEMPO (segundo monólogo interior de Lili Maconha) Há tempo o faquir polia as pontas dos pregos com areia do Monjave. Há tempos e dimensões perdidas apenas esperando o momento certo da conexão. Há o tempo lá fora, chuva de granizo, fagulhas de fogos de artifício e brumas que se movem. Há o tempo dos estalidos distantes das estrelas. E há o tempo do Aqui, esse templo da linguagem que se enrola em frases-serpentes enquanto escrevo e qu

Seis poemas de Marina Ruivo

Imagem
De ponta-cabeça Rudeza simples devasta a alma, Devora-a, sem rasto de enigma. E nós seguimos e cantamos, Mesmo sem razão. É Deus que nos vê, hoje é sábado, Sem bagunça no céu, faz favor. Ele arma um arco-íris, quer a paz, A que vem do trabalho dos anjos, Os mesmos que pisoteamos. É Deus que nos vê do alto, Silêncio no céu, faz favor. Chegamos de todas as partes, Queremos acabar, depois nos esticar E não ter rede que nos sustente. Queremos ver o céu ceder. Mas Deus ainda nos vê, Pede calma, faz favor. E eu quero estar no céu com vocês, Viva – e não ascendida como anjo. De lá não quero ruídos, silêncio, Nem mesmo a música dos anjos. Venha a música da cópula, a da alma, A que chega aos pés e os faz dançar, A que ninguém ouve. Deus está lá ainda, e me vê. Pede inércia, por favor. Súbito, o sal, a fúria e o berro, São os anjos em marcha. Vêm num exército, lançam flechas, Me perfuram a carne e o sangue verte, Meu flanco esquerdo deter

Dois contos de Adriano B. Espíndola Santos

Imagem
REDENÇÃO Olhou para trás, num lampejo profundo de saudade, enquanto a mãe, arriada ao chão, chorava. O pai, pouco caso, ares – só ares – de indiferença, virou-lhe o rosto. Então, o milagre aconteceu: uma lágrima, até então contida, caiu. Splaft! A gota, na terra batida, poeira espalhou. Ressoou a imensidão, naquele silêncio sem fim; sem teto, chuva ou comida. Pegou a todos de surpresa. Olharam-se. Abraçaram-se como nunca. Ainda assim, agarrou seus trocinhos, meia dúzia de roupas, determinado e partiu: o elo, o cordão umbilical; a vida compartida, raramente vívida… Ninguém mais soube do seu paradeiro. Nem mesmo ele. Pôs-se a brincar, perdidamente, por aí, ao léu, com os seus sonhos mais íntimos. Redenção. ENCARRILHADA À BRASILEIRA Topada lascada no pico do meio-dia. 37º C. Centrão. Chamboque extirpado, na grosseria. Pululação generalizada. Nervos ouriçados, já em frangalhos. Coração latejando na ponta do pé, esmaecido de aflição antiga,