Uma ficção de Sérgio Tavares

Humanos Para Alberto Bresciani Enfim, o mar. A imensidão metálica predominando além da faixa branca. Desnudo meus pés e sinto a areia morna, a brisa que veleja minha roupa até a arrebentação. Tiro a máscara e me sento. Aspiro o frescor salino. As ondas cabeceiam o raso, derramando franjas de espuma que ardem meus dedos. Fixo a vista na maré e, de repente, noto uma mancha forçando o elástico da superfície marinha. Uma dança de duas baleias a poucos metros de mim. Fantasmam suas toneladas no turvo profundo sem gravidade, que torna colossos lentos e leves. É um momento mágico de retomada representado na liberdade nunca subtraída daqueles animais. O mundo não era um perigo, pois lhes faltavam humanidade. Então ouço passos. Olho ao redor e vejo que pessoas se aproximam, sem proteção. Formam uma corrente, lado a lado do meu eixo, braço a braço do meu corpo. Absolvidos do distanciamento, observam a cena, mútuos e fascinados. ...