Cinco poemas de Artur Gomes
ind/gesta
uma
caneta
pelo amor
de deus
uma máquina de escrever
uma câmera por favor
quero um computador
nem que seja pós moderno
vamos fazer um filme
vamos criar um filho
deixa eu amar a lídia
que a mediocridade
desta idade mídia
não coca cola mais
nem aqui nem no inferno
come vento menina
come vento
não há mais metafísica no mundo
do que comer vento
tem de todos os sabores
amargo meio/amargo
chocolate de café
sabe como é
em meio a tanta crise
a gente inventa o vento que se quer
tempo poético
o tempo
é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no in/cons/ciente
o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem
caminho de pedras
o cenário
vale dos vinhedos
o tempo
guardo em segredo
como uma jura secreta
na íris dos olhos dela
na face oculta da noite
na retidão clara do dia
como um concha na areia
o tempo
mar de espumas
sargaço algas noturnas
a carne do corpo também
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém
furai
a pele das partículas dos poemas
viemos das gerações neoabstratas
assistindo a belos filmes de godart
inertes em películas de truffaut
bebendo apocalipses de fellini
em tropicâncer genocidas de terror
sangrai a tela realista
dos cinemas
na pele experimental do caos urbano
tragai
dali pele entre/ossos
glauber rugindo entridentes
na língua do veneno o gozo das serpentes
nos frascos insensíveis de isopor
caímos no poder do vil
orgânico
entramos no curral dos artefatos
na porta de entrada os artifícios
na jaula sem saída os mesmos pratos
desconfiguração do corpo
os
estilhaços do corpo
estão espalhados
nas cidades
:
pernas aqui
braços ali
cabeças acolá
na
total desconfiguração
:
- cabeça/tronco/membros
as
cidades estão entupidas
de fragmentos de populações
destroçadas em desespero
a
crueldade é tanta
que dificilmente em qualquer cidade
se encontra um ser humano por inteiro
Artur Gomes é poeta, ator, videomaker e produtor cultural. Tem diversos livros publicados, sendo os mais recentes Juras Secretas (Editora Penalux, 2018) e Pátria A(r)mada (Editora Desconcertos, 2019). Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do Instituto Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes-RJ de 1975 a 2002. Em 1983, criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira e, em 1993, idealizou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira Mário de Andrade — 100 anos — realizada pelo SESC São Paulo. Em 1995, criou o Projeto Retalhos Imortais do SerAfim - Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim, executado pelo SESC-SP em vários unidades na capital e pelo Estado. Em 1999, criou o FestCampos de Poesia Falada. Atualmente, leciona Poéticas no Curso Livre de Teatro em Campos dos Goytacazes-RJ e coordena o Sarau Santa Balbúrdia, na Casa Criativa Santa Paciência, e o Sarau Balbúrdia Poética, na La Taberna de Laura em Copacabana - Rio de Janeiro. Acaba de gravar no home studio Fil Buc — Produções o disco Poesia Para Desconcertos, com produção de seu filho Filipe Gomes Buchaul. Em 2020, lança o livro O Poeta Enquanto Coisa pela Editora Penalux (do qual são estes poemas) e desenvolve o projeto para livro O Homem Com A Flor Na Boca - Com Os Dentes Cravados Na Memória para o selo Fulinaíma MultiProjetos. Seu e-mail é portalfulinaima@gmail.com e mantém o site www.fulinaimicas2.blogspot.com.
Imagens: Deborah Dornellas
Salve! Bom demais... Poesia sempre! EVOÉ!
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