Cinco poemas de Leonel Delalana Júnior
da
catedral
busco
no lodo o lado que falta de minha completude,
nunca
anódina,
sempre
narcísica,
um
caim
de
culpas,
dorso
encurvado
na
dor
de desatar nós,
a
bicicleta chocando-se na parede
da mercearia
do pai
na
catedral
da
praça central,
o
corpo
de
césar,
o
suicídio
dos
primos,
a
trágica morte do tio jovino,
a
trágica morte do tio durvilio,
a
trágica morte de um sobrinho,
a
trágica morte da mãe,
do
pai e de um país
neste
carnaval,
quero
escrever flores,
campos
de flores,
haverá
carnaval?
um
pedido de desculpas?
ou
quiçá
citar
discursos
ou
ainda um relato de origem:
–
muito
prazer
sou
júnior
e
meu
avô
josé
martins
de castro
e
o
tataravô
do
tataravô
do
seu
tataravô
era primo distante
de
um elegante chipanzé de dedos longos
dos
argonautas
os
mitógrafos
dos
primeiros
decênios
do
século
XXI
expõem
em
seus
facebooks
as
mitologias
da
china
comunista
e
da
américa
pós-apple,
o
mundo
ideal
em
um só clique,
por
onde
argonautas
e
odisseus
modernos
navegam ocultos,
impávidos, anônimos, implacáveis com suas adagas, machadinhas, pedras e a vida
lascada
das
enguias
no
deserto
frio
da
noite
a
nona
chora
sua
filha
os
homens
erguem
suas
mãos-raízes
aos
ares
esquecem
de
contemplar estrelas
não
sabem
que
jovens
enguias saem do mar
mudando de cor em busca de rios
escalam
rochedos se necessário for
ao
final
voltam
ao mar
para
que o ciclo se complete e renasçam em seus filhos
da
ética
desmascarar a
anteface velada
o hálito
ondulando o véu
arrancá-la até
dos ossos
asfixia
fomos
abandonados
a
esse
coração
perverso
que
gasta
suas
horas
a
conceber
o
mal,
desconfigurando o lírico
o brasil
está entubado
que fique claro
não perdoo
Os 5 poemas acima são do livro “botânica genesíaca – filamentos” que sairá pela Editora Patuá ainda esse semestre, oxalá!
Leonel Delalana Júnior, formado em
Letras, coeditor da revista Linhasgerais (revista de um número só!), integrante
do Círculo de Dramaturgia do SESC no CPT de Antunes Filho (2000 a
2004). Livros: Uns prosaicos, outros nem tanto (2018) e Águas
revoltas e outra geografia: (2020), ambos pela Editora Patuá. Alguns
escritos em antologias, sítios e agendas da tribo.
O resto?
Construção e desconstrução permanentes
de gavetas e tudo.
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