Cinco poemas zarfeguianos quarentenados
I
A BORBOLETA E EU
Que seria de mim, sobretudo eu,
fugaz esperança?
Que seria de mim, frágil
borboleta verde?
Que seria do poema sem so
free mento?
Tempo e espaço cabem no
mês de abril?
O degas vela as horas mortas
aqui e acolá!
Se me apaixonasse pelo
horizonte fake?
Se, de máscara, apontasse
para a capital?
Cara ou coroa? Morto ou vivo?
Não passará!
II
FIQUE EM CASA
Fique a sós ou bem
Acompanhado(a)
Mas fique em casa
(Stay at home, talquei?)
É mais que estar em
Segurança horizontal
Mais que questão de
Moral: é preventivo!
Saboreie um livro ou
Prove um bom vinho
Seja honesto consigo
(In vino veritas est!)
Tudo que você possui:
Sua frágil existência
Nada do que você é:
A quinta-essência do ser!
Mantenha o controle
(Use desodorante!)
Escale a parede, mas
Continue em alerta
Caia em si! Cuide-se
Na medida do possível
Você VIVO é a medida
Dos impossíveis!
III
OS DEZ MANDAMENTOS NOS TEMPOS DO CORONAVÍRUS
1
Nunca rejeitar o pobre Jesus!
2
Jejuar com fome de transcendência!
3
Jamais rimar Jesus com Coronavírus!
4
Ficar de joelhos ou de quatro nos momentos de oração
ou paixão, respectivamente!
5
Nunca dizer o nome do Senhor em vão, senão numa jaculatória!
6
Amar Jesus até o fim dos tempos (santos ou feriados)
e modos (frios ou quentes)!
7
Tê-Lo como divisor de águas pretas: Cristo e anti-Cristo!
8
Jamais economizar nos ai-jesus!
9
Cuidar cristãmente da partida de xadrez e da partida
pro além!
10
Jurar ficar em casa nesta e nas quarentenas vindouras!
IV
NÃO ESTÁ À ALTURA
do baixo calão
do cabo a rabo
do rés do chão
do bolsominion
do mimimi
do baixo clero
do h agachado
do cala a boca
do coronavírus
do kakaka
V
QUIASMO
Doravante família com máscara
famiglia sem máscara doravante!
Almir Zarfeg – ou simplesmente A. Zarfeg – é um poeta e jornalista baiano. Atualmente preside a Academia Teixeirense de Letras (ATL). Ele é autor de livros envolvendo os mais diversos gêneros textuais: poemas, crônicas, contos, novela, infantojuvenil e reportagem. Zarfeg participa de inúmeras instituições literárias dentro e fora do país. Iniciou-se na literatura em 1991 com o livro de poemas Água Preta, atualmente na 4ª edição. Nos 25 anos de sua trajetória literária, celebrados em 2016, ganhou a biografia “De A a Z” e seu nome virou verbete no “Dicionário de Escritores Contemporâneos da Bahia” e na “Enciclopédia de Artistas Contemporâneos Lusófonos”.
Imagem: rené van haeften
Poemas bem trabalhados! "A Arte da Guerra" contra o coronavírus.
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