Seis poemas de Carlos Emílio Corrêa Lima



MONA-LISA CANIS

(poema sobre pintura de Julio Lira)













..e para a frente,é este olhar-orar vivaz,
cheio de uma boa luz,
a irradiar castanhos
e seus dias suspensos ,paralelos
em graduados amarelos
caminhos de faros longes
e uma branca e aguda brancura altiva e nobre,
de folhagens modelando espaços
em seus ventres, que o cobre
sentidas águas solares bem de dentro,
em ito fito lacrimejado almejo
em fúlgido sentimento de escorrer destampa
e, fulge,irradia e reflete ao mesmo tempo, bem abertos
é um discernimento alagado
e alargado de largo lago sensitivo
em olhos libertos tinos lisos
destrancados infinitamente a tingir o atingir, bem perto
sem fugas, fingimentos,clareiraura,
esse quadro ,uma espécie êsca  fresca ânima
de Mona Lisa outríssima
de velejado animal pintado
trazida como em barco
apenas com os gestos
e apelos móveis, tintas de apoio,
elevada e da natureza mais pura dos animais,
soprado morno o olhar do cão (ou cadela?)
em timbres vivos de aquarela aponta,d,
desfecha,flecha de maciezas,a,
melo-dia, infiltra ainda mais o dia da mais leve cor da força
mãeabre eclusas de claridões,
de esclarecimentos, inteligências outras
a que não dávamos algum lume ou gume
de importância ,de mais esta cor a ânsia,
com a presença suspensa e linguística,
mensageira, da cauda. Alcance. Êxtase-estância
Olhar-alvor, olhar de pincéis vivos,
pipilos luminâncias instaladas dos olhos do redor
repleto de espiritualidades novas
num jogo intra-mundos
refletindo o amigo pintorator
aura de vitrais alquímicos
que lhe pincela tardes em seu pelo
banhado de seu próprio ver de ser, alôr
apontando adiantes e futuros ouros ativados
ainda mais além do incessantemente ver
pincej(au)mentos
o oscilante além do ver de sua flor solar.
ambiessências
de muito fulgor e brilho a horizontar calor
de incandescente elétrico horizonte motivado,
já ali em seu sempre dentro a fluviar-mirar.
Este olhar de mel zul’ente, esse fitar
é o caminho castanho e ótico
do pintor em direção à criação da luz.
E no que o animal do quadro está a ver-pensando
junto com o seu pintor é o olor do seu próprio raio manso
de elucidação campestre de amor e rios soltos
busca de ultramaramor e ror
doce transpor próximo e remoto de novas entidades
como se dentro todo de seu ser disposto
de sua própria eterna catedral da vida?


***


O Anúncio da descoberta da árvore Ginib
Suas propriedades. Exaltações azuis
Descrições do “em torno”, isto é, sobre a sombra da
Árvore.
A busca de toda a tradição mística sobre a
Árvore Ginib.
A árvore Ginib se transfere
 em muitas deSuas partes para profetas humanos.
Muitas vezes um esquilo fala fluxos concentradíssimos
dos discursos de Ginib, em desconsolo.
Ginib é medicinal e guarda em seu interior
Ressonâncias de um fonema a ser adiciona
Do nas línguas humanas pronunciadas mais
Acerca do sol. Tempos futuros, boa umidade
Ginib é meritória, medicinal, oriental
Gosta de ser arrancada cuidadosamente
Quando certos prazos de permanência são
Atingidos, arrancada de seu torrão-de-raiz,
(isso é uma cerimônia que dura cerca de um
mês e uma semana); é transladada desde
si mesma a um ponto muito distante, a
um sítio que ela escolheu através do uso
de um pássaro-espessor, a um lugar fronteiro
do mar. Gosta de passagens e de viajar
vaporizada por cantos de remadores, embarcada pelo
mar. Neste período de jornada marítima,
Ginib, a árvore, é tratada como um gigante
esotérico reflexivo, um ancestral pesadíssimo
Com uma fecundação de flautas na mente,
flautas de elixir sustenido estremecendo com
os ventos as folhas. Extremas.
A descrição de Ginib é um cântico
Amadurecido. 





DIÁRIO SECRETO DE CRISTOVÃO COLOMBO

Catei estas frases dele, herméticas: num jato de luz num sonho:
A Jerusalém verdadeira ,
secreta, a visonária,
o coração do mundo, está oculta,
sob controle de anjos salinos perpendiculares,
tampada lâmpada líquida, água inicial,
um tímpano líquido esmagado, caído dos céus ,
espuma antiga do mar mais alto, velhissima cisterna imensa
de uma água espectral e beatífica, velha piscina ritual
de águas agora amordaçadas,
paredes enlodaçadas, paramentadas de sargaços.
estas águas escutaram naturalmente o infinito.
Pelas ilhas das Índias vou procurando esse coração marinho,
minha meta plástica, entre as alvoradas,
no seguir dos pássaros falantes entre as ilhas ondulantes
sei que o coração do mundo
vem me atraindo desde que nasci para o seu seio-mar e terno.
Foi com estas águas que o demiurgo esculpiu numa vertigem cega este universo falho e perempto.
E ocultou sua matéria de criação em alguma parte da Terra.
Sei que ouço seu canto de atração,
seu marulho roubado, embutido, desde que nasci.
Dizem os velhos cronistas da Europa
que tenho sempre uma nau farfalhada e fantasma
que transporta os cadáveres dos marujos
que morreram nas três viagens que fiz à grande Asia desconhecida,
superposta ao mundo,seguindo ao lado da frota principal,
na esperança de encontrar essa piscina oculta,
porque nessas águas.mergulhados, eles ressuscitarão.
Não me importa o que digam e que misturem todas as lenda
com os ventos quentes da memória
e os muito frios
do esquecimento.
Minha estrela líquida e subterrânea é verdadeiramante
o coração criador do mundo. E nele, algum dia
ou noite sem fim, eu me banharei.
(Nota; grande parte dos diários de Cristovão Colombo continuam inéditos nos arquivos das Indias, em Madrid, Espanha)





FRAGMITO
(Não catalogado)

Vez primeira que surgiu não tinha olhos, pernas
cabeça nem sequer voava
boca não cantava música
nem língua lambia a praia
vivia na cidade sem corpo
era brisa por entre os prédios mais altos
cheiro de flor num monte de lixo
brilho nos olhos do gato que corria nos becos
em busca da cor mais nova e mais urgente;
o homem sem corpo é personagem secreta
da região dos sentidos mais iluminados,
dos mais aguçados braços invisíveis
clarão verde dos anões, das estrelas sem fotografia,
na ilha com apenas uma porta de prata e uma criança, esquecidas na areia
( desses pavores exalados da árvore invertida dos sonhos)
névoa, ele vem, completo des-mar
o homem sem corpo
não conta o número volátil de seus dedos nem suas cidades fora do espaço
sua idade é a mais provável reta diretamente ótica idade do sol inerrexistente
sol-tronco, sol-de-ramos-gritos, sol-de-grilos salgados aos milhões enfiados dentro
, sol triturado em pó a zunir moer rituar
ouro em grãos leves que não param de ascender,
subir para alguma muito
terrestre não silabada altura,
suspenso deserto de ouro
a crescer





O AEROPORTO DA DATILOGRAFIA

Vamos começar a escrever nesta máquina antiga, poderosa, imantada do sempre
Sempre preparada para o escrever o complexo
Máquina cujos milhares de olhos são suas teclas sempre abertas para o pouso
Das pontas de meus dedos de minhas mãos ágeis, pássaros delas, seus amores
Esta máquina de escrever está casada com  minhas mãos
É seu templo e sua mente
Seu mar por onde navega meu coração
Fazia anos que não escrevia com sua ajuda-arcabouço
Fazia anos que eu não ouvia sua música ascendente
De suas teclas sempre batendo nas portas de desconhecido com a urgência
Feliz dos grandes descobrimentos
Na busca sempre dianteira, de proa, de agarrar novos acontecimentos do invisível
Esta minha máquina-de-escrita
Que quando nela em suas teclas escrevo cada vez mais rápido ela vai se transformando
Em busca do pouso na mais perfeita e ainda indevassável região das mais velhas
Cantigas dos contos mais inumeráveis
No aeroporto em cujo saguão repousam à espera de seus voos mais que constantes
Os mais extraordinários contadores de estórias, de todos os tempos, espaços e mundos
Que é para o aeroporto das lendas
que essa máquina voadora de escrita a qual eu
Habito sempre me leva,
O murmúrio interminável é a própria aura do aeroporto no outríssimo lado do mundo secreto,
O aeroporto de todos os cantadores de histórias
e sua arquitetura arquitetônica é a mesma  de uma
Gigantesca e onduladamente estilizada máquina de escrever acampada numa estepe muito clara
De campinas videntes de orvalho mágico em cuja grama sopra um ar densamente forte e antigo
Carregado de abelhas zumbindo o mais que indizível





SOMA

Tudo ficou procastinado
se Cristo existiu ou não
se jeová javé é o verdad
eiro deus depois de Zeus e dos Seus Zés e Donas Marias do Ceará
se os americanos realmente pousaram,
na lua, espécie de hóstia imensa consagrada,
o deus Soma dos hindús,
se a revolução russa realmente foi uma vitória
da humanidade
e se a francesa não guilhotinou e afogou muita gente
nos rios da França, em jangadas ferozmente improvisadas
se a guerra do Vietnam foi realmente vencida
se os Beatles eram o melhor conjunto de música da Inglaterra
se Jango, Castelo Branco, Anísio Teixeira, Chico Science, Elis Regina, Sergio Porto, Carlos Lacerda, Jk, não foram assassinados
se foi Ronald Reagan quem mandou matar Jonh Lennon
se a aids nao foi a guerra neopentecostal contra-sexual
se muito sushi não faz mal
se a velhice não é uma mitológica doença
se todas as eleições em todo o mundo ocidental não são pentagonalmente fraudadas, inclusive as atuais primárias democratas nos eua
se os marcianos não controlam a Terra desde o dilúvio
com a ajuda dos maçons e jesuítas, que cuidam do rebanho (vide Charles Fort- essa idéia não é minha)
se a antiga Atlântida afundou no mar ou escapou desse
aparente planeta de volta para o espaço como uma grande e populosa nave continental
se existe morte depois da vida
se viemos realmente do mar
se as galinhas ainda se poem a cacarejar
se raramente existiram dragões.
principalmente os transparentes transcendentemente azuis
se o universo é tao esmigalhante, ente infinito
onde somos poeira e nada
e se a atual cosmogonia do super infinito é realmente
verdade verdadeira ou tudo o que existe surgiu
emanou foi centralmente desta mãe severa, a bela Terra
se o elixir da vida eterna foi capturado por sábios soviéticos com o seu envio do Lunakhod à Lua magistralmente alguns precisos dias antes da missão Apolo 11
se Krishnamurti tinha razão quando acusou os sacerdotes hinduístas
de guardarem o segredo do soma, isto é, do elixir, a beberagem eterna,que nos torna a todos e a todas imortais, escondendo-o violentamente de toda a humanidade até agora
até que Leonid Brezhnev, por uma outra via,
tornou-se o primeiro imortal depois do retorno do Lunakhod à Terra,
tendo recebido na sala de espelhos vermelhos do Kremlim as primeiras amostras lunares
das quais se alimentou, comeu, cheirou, mastigou profundamente,
passou em todas as suas mucosas
levemente o pó mágico com um taoísta suavíssimo pincel
e depois escondeu-se até hoje nos Urais
numa fazenda-fragata com sua adorável Viktoria Petrovna, seu casal de filhos,
e mais alguns cientistas ,magos- cosmonautas,o indispensável velho alquimista submarino de Sebastopol ,velhos músicos amigos, perfumistas e poetas de sua predileção,
protegido por um bosque de náuticos pinheiros
onde mais ninguém,
por toda a eternidade,
lhe enche mais o saco....








Carlos Emílio Corrêa Lima é poeta nas hora vagas. Tem vários romances, livros de contos e de ensaios publicados.








Imagem: pintura de Julio Lira. 

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