Cinco poemas de Ines Lempek




Caleidoscópio

A tempestade abre a janela.
O mundo troca de roupa.
Pedaços de paisagem lá fora caem um por um.
Estilhaços de final de tarde escorrem pela trilha do tempo. 
A preta noite vem.
No fundo do olho, um caleidoscópio.
A alma agora veste a poeira lunar.
Muito frio aqui dentro.
Venha logo.





No passar das horas

Já é noite alta
os sapatos largados 
na entrada da casa
junto ao peso do dia
no exigir dos tempos
esfrega as mãos 
muitas vezes
tentando lavar a alma
antes de dormir. 





Matriz

Vidas suspensas
tempo indefinido
ruas desertas
corpos em alerta
asas fechadas
janelas abertas
planos e desejos
sonhos guardados
em caixas de segredos
estátuas de gesso nuas
em vitrines vazias
nem selfies
nem purpurinas
nem coelhinhos.





Entre mundos

Num fechar de olhos
o mundo de dentro
abre-se à tela 
de pensamentos 
às vezes em bandos
enxames de abelhas
pássaros em revoadas
outras tantas
manadas de elefantes
cavalos selvagens
atropelam-se uns aos outros
rebeldes em fuga
de um mundo lá fora
hostil, egoísta, assustador.





A roda das moiras

Um dia ele disse
ela era lua e estrela

na lua minguante
estrelas cadentes

brilho ofuscado
na roda das moiras

passageiros de linhas paralelas
rumo ao infinito.












Ines Lempek é natural de Porto Alegre, morou em São Paulo e Brasilia. Estudou Psicologia na UFRGS e especialização em Psicanálise e Cultura na UnB. Participou de oficinas de escrita criativa, publicou em antologias, revistas literárias e blogs, com poemas, haicais e historias curtas. Lançou, em 2019, o primeiro  livro solo de poemas, O avesso do clima, pela Editora Bestiário.

Imagem: smilin7h

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