Cinco poemas de Prisca Agustoni














essa escrita que diz e preenche
o vazio das noites em que muitas estrelas
e diversas línguas não traduzem
o que importa o que realmente importa
para que o estômago não arda mais
e coisas e novas palavras encontrem
em seu ossário razão e paz




              Dias já maduros
              mostram a polpa
                     para dentes
              que os morderão
              um após o outro
              cautelosamente
              para não engolir
              seus caroços

              : somos reféns
              na terna carne do tempo












                  antes que seu rosto
                                mergulhe na memória,

                  será preciso costurar
                  bem apertados
                  os cílios,

                  para que o olhar
                  não encalhe
                  imitando as pedras,

                  secos os olhos
                  sem movimento





a casa hospeda sombras
atrás das varandas
onde plantas e flores descobrem
cruéis brotos de candor,
enquanto no porão
sílabas de vidro
sugam a luz que virá:

tantas e tantas portas
e nenhuma chave











 Celebramos um pacto.
 Os lábios maduros sangram
 e a mão afasta seu alvo:
 as senhas não abrem o corpo,
 são dígitos sem memória.
          
 Celebramos um pacto
 abrindo as rubras veias  da noite.











Prisca Agustoni nasceu na Suíça italiana, viveu muitos anos em Genebra antes de se mudar para o Brasil, onde trabalha como professora de literatura comparada e como tradutora. Escreve prosa e poesia (e se auto traduz) em italiano, francês e português. É também autora de livros para a infância. Desde 2019 é colaboradora do jornal  Il Sole 24 Ore, de Milão, e desde 2015 integra o comité científico do Festival Internacional de Literatura Chiasso Letteraria na Suíça, onde apresentou autores como Luiz Ruffato, Julián Fuks, Dany Laferrière e Jean Bofané. Suas publicações mais recentes no Brasil são os livros Casa dos ossos (Juiz de Fora, Macondo, 2017) e animal extremo (São Paulo, Patuá, 2017). Tem no prelo um livro de poemas no Brasil e dois livros de poemas na Itália. Estes poemas são de Casa dos ossos.











Imagens: Burle Marx

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