Cinco poemas de Luiza Cantanhêde















A CABAÇA

Sou essa terra de chão batido
Esse sertão da língua de cinza

A fome alada, o Carcará

Sou esse deserto de poeiras
longínquas
Sou água na cabaça, o arame
Farpado, cercando o latifúndio
De sol e estrada

Sou esse fruto no avesso da
Terra plantada.



DA VOZ

Tão rústica é a minha palavra
Não tem a fineza daqueles que
Passeiam pela boca da erudição

A minha palavra é a da roça
Da enxada circundando a
Poeira ao pé das cinzas

Meu vocábulo de pedra
Dizendo “desvão “












AJUDA-ME A ENCONTRAR TEU GRITO

Ajuda-me a encontrar o teu grito
Tua luz apagada
A vertigem de tua língua
Inalcançável
Ajuda-me a regar tua flor silvestre
Nesta orla feita de sol e primavera
Para mim, basta saber que me acolhes
Em teu voo migratório.
Quantos caminhos
Até encontrar em teus olhos
Um vestígio de eternidade?
Meus pés (trôpegos no tempo)
Perdidos, para refazer o caminho.
É preciso apagar as pegadas
Decodificar a trilha com a luz apagada
Olho-me no espelho e minha cara é de deboche,
Mas algum rasgo é de ignorância
Alguma linha tem algo de Frida
E da natureza morta no calo da vida.
Não creio nos tons amenos
Quando sinto fome.


HIMALAIA

Os dias perdidos
Foram tirando de mim
A habilidade de encontrar
A paz.
Mas resiste em mim
O olhar quieto
Das paredes
E essa asa silenciosa
De quem faz ninho nos
Desfiladeiros.













AMAZÔNIA

De tempos em tempos
O espinho reconhece
A ferida

Vez em quando
O amor arranha
E se vai.








Luiza Cantanhêde nasceu em Santa Inês-MA. Reside em Teresina-Piauí. Possui formação em Contabilidade. É membro fundadora da Academia Piauiense de Poesia. Membro da Academia Poética Brasileira. Membro da Associação de Jornalistas e escritoras do Brasil, coordenadoria Maranhão. Membro da Sociedade de Cultura latina do Maranhão. Publicou “Palafitas” (poemas, Penalux, 2016) “Amanhã, serei uma flor insana” (poemas, Penalux, 2018) e "Pequeno Ensaio amoroso" (Penalux, 2019). Recebeu menção honrosa no Prêmio H. Dobal da Academia Piauiense de Letras, e menção honrosa no Prêmio Vicente de Carvalho 2018; no Prêmio "Álvares de Azevedo-2019, ambos da União Brasileira de Escritores-UBE/RJ,  recebeu o prêmio "Destaque Nordeste" 2019, em Gravatá-PE. Tem poema traduzido para o Italiano.





Imagens: Maria Helena Vieira da Silva













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