Cinco poemas de Lívia Corbellari















mil vezes sangrei
o pulso não para
conheço meu coração
não há mentira que estanque













o corpo cansado delira
sinto que posso escrever
só para descansar minha exaustão

mas por que poesia?
se ninguém se move
se ninguém vacila
a língua está morta

mas a minha não
minha língua não cala
ela está viva em minha boca
e em
sua boca













o céu se partiu em milhões de pedaços
e choveu estrelas de vidro
todo mundo se cortava com os cacos
vazando em poças de sangue

a cidade insistia em se manter sólida
mas foi quebrando
estilhaçando
diluindo os corpos em cimento e ferro

o céu engoliu tudo














as ruas também ficam doentes e morrem
os prédios infeccionam e são abandonados
a ponte sente dor e afasta

e a cidade te engole e te cospe













romper com a manhã
corpo corrompido
sem lugar sem jeito
vestir-se de cinismo e
perceber que o corpo ao lado
não tem rosto










Lívia Corbellari nasceu em 1989, em Salvador (BA), mas mora em Vitória (ES) desde 1996. É jornalista, mantém o projeto literário “Livros por Lívia” e também faz parte do núcleo editorial da Revista Trino, sobre literatura brasileira contemporânea. “Carne viva” é seu primeiro livro de poemas.













Imagens: Marli Takeda
Todos os direitos reservados © Marli Takeda

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