Quatro poemas de Max Lima
I
como
alterar o curso de um poço?
como
enxergar
por através
de
uma janela soterrada?
como
pisar nestas pedras de ouriço
ou
abraçar este real só sombras?
as
respostas não chegam
Ártemis
prendeu os ventos
da
anunciação
as
cortinas do teatro se erguem
feito
tijolos
nas
ruas só o grito
de
uma cartomante em pânico
POEMA
DE 20 DE JANEIRO
para
depositar pedras sobre os ponteiros
e
pará-los
os
muitos Sísifos se arrastam na montanha circular
do
relógio
é
em vão que evitam cavar nos números as covas dos irmãos
que
insistem em romper o vai-e-vem desajustado e calculado
dos
grandes troncos
tolos
amarrado
neles
São
Sebastião pereceu
perfurado
por flechas do milésimo
ANTÔNIMO
o
antônimo de gaveta
é
folha
porque
a gaveta é um corpo
que
se guarda para dentro
no
escuro do segredo
mas
a folha
essa
é uma palma esticada
a
colher o sol
e
toda árvore é um conjunto de mãos
a
provar da luz pelo tato
na
gaveta o caos velado
nas
folhas a luz dos astros
XXVII
acordo
não
abro as janelas
hesito
um pouco na frente de A teus pés
tomo
um café
hoje
o dia é uma longa hora de 24 horas
atravesso
a casa e estou na noite
o
banheiro é uma madrugada gelada
com-fundo
as horas nas coisas
posso
dizer:
esse
lápis com que escrevo é uma manhã
posso
dizer:
a
tarde é meu corredor sem passadeira
posso
dizer:
a
noite está debaixo da cama
o
relógio da parede derreteu e manchou toda a pintura
que
acabei de mandar fazer
(roxo)
ainda
não inventaram a medicina das horas
não
há cura para a tetraplegia das coisas
o lado de dentro da janela é mais ruidoso que uma cidade
inteira
o lado de dentro da janela é mais ruidoso que uma cidade
inteira
Max
Lima (Rio de Janeiro, 1992) é um músico e poeta carioca.
Graduado em Letras pela UFRJ e mestrando em Literatura Brasileira
pela mesma instituição, publicou poemas em prestigiosas revistas e
blogs literários, tais como Mallarmargens, Subversa, Ruído
Manifesto, Mural Kotter Editorial, InComunidade, entre outros.
Tetraplegia das Coisas, seu primeiro livro de poesia, será
lançado em breve pela editora Patuá.
Imagem: Salvador Dalí
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