Seis poemas de Paulo Coutinho e seis fotografias de Zuleika de Souza















Sim, perguntas

deixei a interrogação
não sabia se estavas por aí
se tinha sido aqui mesmo, há tanto tempo
o casamento do Romão
o canário do reino que fugiu
perguntei também pelos rumos que perdi
não lembro quando
















Memoriágua

Depois da chuva
a memória da água
escorreu
no vidro de lembrar
permitiu
um tempo que não vivi














Deixo passar

Os caminhos envelhecem
aqueles que se foram esquecem
as pontes pulam e passam
as águas tontas nem se lembram quando
as portas tanto fecham e encerram
que um dia, fartas,
rasgam-se  largas frestas
para os gatos e a imaginação















Divine


Minha pequena Vênus industrial
os plásticos de China
o cenário desavisado de uma ópera inexistente
-  nem seu canto nada adivinha -,
o simples da coisa
tudo a esconder o óbvio
sua presença desmembrada
tão sorrateira, por divina















Telhaterra

os telhados
infantarias cerradas
barro torrado nas olarias
endurecido no medo do fogo
na chuva
reencontra a água das poças
o riso que foi
dos meninos enlameados de antes
muito antes
de outra chuva

É alegre a chuva que cai do telhado!












A rua depois do absurdo

Uma escada decide
subir e descer
no mesmo instante em que ela plana vai
persegue uma saída comum
a luz lá fora
andar pela rua comum
depois da absurda geometria










Antônio Paulo Barêa Coutinho nasceu em Barretos, no interior paulista, em 1962. Economista pela Universidade de São Paulo, trabalhou em banco privado, na Editora Abril e no Banco Central. É mestre em Ciência Ambiental (USP) e doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Campinas (Unicamp). Foi professor em escola técnica e no ensino superior. Está em Brasília desde junho de 2009, quando veio trabalhar no Ministério do Turismo. No Ministério do Planejamento é servidor desde 2011. Publica pela primeira vez suas poesias que, em Fotospoéticas, sempre vieram a partir da inspiração das fotos de Zuleika de Souza.













Zuleika de Souza nasceu em Brasília, em 1963. Repórter fotográfica desde 1982, fez trabalhos para grandes jornais e revistas brasileiras como Veja, Isto é, Senhor, Manchete, Ágil, O Globo, Folha de São Paulo, Cláudia e Vogue. Trabalhou no Jornal do Brasil e no BSB Brasil. No Correio Braziliense teve sua mais longa jornada: ali foi repórter fotográfica por 25 anos e criou a coluna Photo & Grafia. Assina hoje a coluna Zumzum no site Quadrado Brasília. Exibiu seu trabalho em mais de uma dezena de exposições. Realizou cinco exposições individuais; uma delas, Chão de Flores, foi exibida no prestigiado Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília e publicada como livro. Participou como convidada nos livros O Processo Constituinte, de 1988; 100 Fotógrafos Fotografam o Cotidiano do País em 24 Horas, de 1999, e Um olhar reescrevendo o Brasil - Alfabetização Solidária, de 2002. Fotógrafa fortemente ligada ao urbanismo, à paisagem e à vida cotidiana de Brasília, Zuleika foge aos estereótipos encerrados numa perspectiva estritamente arquitetônica e monumental de sua singular cidade. Prefere a arquitetura popular, as reconstruções, o inesperado e o aspecto não previsto da planejada Brasília.  Atualmente, faz curadoria de trabalhos, ministra cursos de fotografia e desenvolve projetos pessoais. Também está à frente do ateliê de fotografia Plano Imaginário.




Todos os poemas e fotografias são do livro Fotospoéticas (Edição dos autores, 2019).




Fotografias de Zuleika de Souza
Todos os direitos reservados © Zuleika de Souza





 

 

Comentários

  1. Imagens e palavras que evocam um "vade retro" por parte dos idolatradores de havans e miamis...

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