Quatro poemas de Hirondina Joshua














HEGEMONIA

O voo pode ser feito pelas mãos
pelos braços
pés
ou cabeça...
o voo essencial
não tem corpo
pode não respeitar
o medo.
O voo assim a fechar o círculo...
parece
transparente
nu
conhece o céu
a retina, e sua pupila
vibra na boca do coração de uma criança.
O voo pode ser feito pelas mãos...ou pelos dedos...













No início era o verbo amar.
A carne tinha olhos. A carne via sobre o telhado do mundo.
Era antiga a condição com que se podia equilibrar a tenda das 
coisas. O vento era com cor. Ao lado havia a caixa dos mistérios. 
Uma voz que não se podia ouvir a dizer como se deve viver…
Era o fim. No início o verbo amar não tinha voz.
Passou o tempo sob a terra. A água desapareceu. Acredita-se que 
era por causa dos olhos que se fundaram no coração. Veio o cansaço 
para disfarçar a queda. No início havia o verbo amar em cima da asa 
ou do tendão das cores. Havia um furacão por vencer e com certeza 
de que se já tinha nas mãos. No início era o ardor, a cegueira.
No início era o verbo amar. Em cada imagem há o som faminto do 
sal, transformando a morte em embriaguez. Há o vaso dilatado de 
esperança depois de cantarmos. Digo: depois da planta que se fez na 
face.
– A distância alumia as estações perdidas. Mas como podem se 
perder as estações se ainda há a existência?
Como se perde o tempo?
Olho para a diurna loucura e incendeio. Regresso ao ventre 
primário.












     
Encheram as mãos e as cabeças.
Cantaram as canções dos pássaros.
Brilharam.
Encheram espaços.
Perseguiram os mais fortes.
Distraíram os preguiçosos.
Sob as canções dos pássaros inventaram outras.
As mãos sanguinárias eram limpas.
Esperavam por alguém com olho infestado e uma alma branca. 












O cão lavrador chama o homem.
O homem chama a espada.
A Terra se ironiza.
Aquele cujo nome não deve ser pronunciado vigia o espaço mais 
sagrado.
Oh que infortúnio! Bárbaro: o peso da morte furtiva.










Hirondina Juliana Francisco Joshua (Maputo, Moçambique, 31 de Maio de 1987), mais conhecida por Hirondina Joshua, é uma escritora moçambicana. Uma poeta de destaque na nova geração de autores moçambicanos. É Membro da Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO). Obras individuais: 2016. Os Ângulos da Casa. Prefácio Mia Couto. 1a. edição. Moçambique, ed. Fundação Fernando Leite Couto; 2017. Os Ângulos da Casa. Prefácio Mia Couto. 2a. edição. Brasil, ed. Penalux. Obras colectivas: 2005. O Grasnar dos Corvos (Peça de Teatro). Co-autoria. Antologias: 2006. Esperança e Certeza I . Antologia. Moçambique, ed. Associação dos Escritores Moçambicanos, pp. 47-49; 2008. Esperança e Certeza II . Antologia. Moçambique, ed. Associação dos Escritores Moçambicanos, pp. 63-65; 2012. A Minha Maputo É... . Antologia. Moçambique, ed. Minerva, pp. 45; 2014. Alquimia Del Fuego. Antologia. Espanha, ed. Amargord Ediciones, pp. 481. Projectos Literários: Criadora da coluna Exercícios da Retina ‒ literatura moçambicana; Os Dedos da Palanca ‒ literatura angolana e Letras do Atlântico ‒ literatura portuguesa e brasileira na plataforma cultural Mbenga Artes & Reflexões. Colaboração em Revistas e Jornais, dentre as quais destaca-se as revistas Caliban, TriploV, Courier des Afriques e Literatas. Também colaborou com a revista Missanga, de Moçambique, e actualmente escreve para as revistas Pazes, Raízes, Por Dentro D'África, Ruído e Manifesto, Conti Outra, Zunái (Brasil), Sermos Galiza, Palavra Comum (Galiza), Pessoa, Literatura & Fechadura, Mallarmagens. Tem participado em colóquios, tertúlia e debates sobre literatura, em 2019 participou da 8ª. edição do Festival Literário de Macau (The Script Road – Macau Literary Festival). Prêmios: Menção extraordinária no Premio Mondiale di Poesia Nósside, 2014.











Imagens: Charlotte Poseneneske

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