Cinco poemas de Silvio Pedro
SOBRE BEM-TE-VIS E ESTILINGUES
é o morto que
vestindo seus avessos
nos desnuda
o sexo exposto
quase uma flor
amanhecida
o morto
com seus barulhos trancados
¿onde a chave
e numa tarde qualquer
não conseguimos mais
encontrar a porta
que nos levaria
de volta
a Alberto Martins
CONTRAMÃO
em minhas mãos
as trilhas
de todos os destinos
mas um único gesto
e é tudo findo
permeáveis
vão do flagelo
à carícia plena
porém poucas
são as penas
NOTURNO
essas mãos
que sobre ti desabam
pedem a ira
de mais um dia
a fria lacuna
do que deixas vir
ouvidos calados
e o vento
do lado
de fora
sintomas
de um céu
em desmanche
ou uma voz
atravessada
no abismo
a fria lacuna
do que deixas vir
ouvidos calados
e o vento
do lado
de fora
sintomas
de um céu
em desmanche
ou uma voz
atravessada
no abismo
¿ESQUECER
talvez esquecer um
poema um livro uma
foice fechada uma flor na mão
aberta talvez num adeus rente
às rodas do trem tremer talvez temer o
evangelho que cai das árvores
e é verde e nos põe acreditando no
que é sol e basta talvez um
movimento no flagelo de uma
pedra aberta na mão fechada talvez
à noite
sopra um vento
mais longo
numa salva
de uns quantos
silêncios
a memória range
andar acima
até parece
de uma outra
vida
neste desfile de folhas
através
desta noite
desta rua
onde todos
há muito
já foram dormir
sopra um vento
mais longo
numa salva
de uns quantos
silêncios
a memória range
andar acima
até parece
de uma outra
vida
neste desfile de folhas
através
desta noite
desta rua
onde todos
há muito
já foram dormir
Silvio Pedro nasceu em São Paulo, SP, em 1965. Foi
premiado, em 2011, no Concurso de Apoio a Projetos de Primeira Publicação de
Livros da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo (ProAc), projeto do qual
resultou o livro de poemas Inventário
afetivo. Formado em design gráfico e pós-graduado no Instituto Superior de
Ensino Vera Cruz, no curso de Formação de Escritores e Especialistas em
Produção de Textos Literários. Desmanche
é seu segundo livro.
Imagens: Andrew Buchanan
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