Três poemas de Patrícia Lavelle









Onde



I

Encosto a cabeça no teu peito

e ouço o imenso

horizonte líquido do tempo



Neste mesmo gesto

escuto e entendo: pergunto



O corpo é barco e oceano



onde, o marinheiro?





II

Entre o barco e o arco

do horizonte

movediça

onda



onde?



No eu

um outro

se esconde











Filomela



I

A-melódica, música

que me falta

e faz

aquém e além da língua

o corte:

canto que ecoa mudo: 

fluxo e fio. 



II

Não canto.



Minha voz é essa falta

que trans

            borda:

imagens costuradas

na pele fina

do pensamento



III

Com o fio

da navalha

no tecido

do silêncio

eu bordo um grito

trans

figurado










Alquimias da palavra



palavra de barro:



elástica liga

do âmago, ânimo

e imagem



palavra de vidro:



o que deforma

o líquido 

dá forma

ao vaso



verdade é sopro

que ateia e apaga

o fogo



palavra de carne:



palavra em carne 

viva







PATRÍCIA LAVELLE é professora da PUC-Rio, onde atua no Programa de Pós-graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade. Em poesia, publicou Migalhas metacríticas (7 Letras, Megamíni, 2017), Bye bye Babel (7Letras, 2018, primeira menção honrosa no Concurso Nacional de Literatura - Prêmio Cidade de Belo Horizonte de 2016). Em colaboração com Paulo Henriques Britto, organizou O Nervo do poema. Antologia para Orides Fontela (Relicário, 2018). Em 2019, contribuiu com poemas inéditos para o Jornal Rascunho e para a revista francesa Po&sie, além de ter publicado em diversas revistas online como Gueto, Ruído Manifesto, Germina, entre outras. Mantém uma coluna de crítica de poesia brasileira contemporânea na revista Pessoa.







Imagens: Google

Comentários