Três poemas de Casé Lontra Marques
Os nomes sustentam as sensações
Longe de apenas designar,
os nomes
sustentam as sensações — mas só
quando
eles (impuros) se perdem
pelas vielas das
veias. Como
vultos.
Desaparecer: incisão
nutritiva.
E agreste, onde o gozo
— além de
robusto — costuma
ser
rugoso. Para os bichos
cujos embates esburacam
o
solo da sintaxe, nada
é mais
atroz que a falta
de tenacidade.
Para estancar a letargia
A rebelião nos regenera,
desengessando o pulso do sal sobre
uma cicatriz
arboreamente insaciável;
nos ossos, os olhos
do vento
— que se aninha (sem
nódulos,
sem enigmas) onde
mais
lateja: para estancar
a letargia,
tecemos — entre frestas —
um ato
cujo embrião prospera
em
ambiente áspero.
Carne envelopada pelo vento
Carne envelopada pelo vento,
sei o que
é respirar enquanto
a costela
racha.
Como um país: o sangue crepitando.
(E as vogais
exiladas da fala.) Pânico
nenhum
envelhece intacto:
o sol
— esguio — se encaixa nos
lábios
das feridas que
acordam já
aguçadas. Prontas para
capturar
o sabor abaulado
da ausência
de cálculo.
Casé Lontra Marques
(1985) é poeta. Vive em Vitória, no Espírito Santo. Publicou Desde o medo já é tarde, O que se cala não nos cura e Enquanto perder for habitar com exatidão,
entre outros livros.
Imagens: Google
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