Quatro poemas de José Carlos Vieira








Para Jacques Prévert

a chuva
esconde pássaros
espanta cantos
há anjos
no ponto de ônibus
todos molhados








está ali
em cima do disco do led zeppelin
ao lado do incenso
no colo de sheeva
junto ao poema de cacaso
ali!
à direita do livro de jack london
amassada e rota como a camisa de che
iluminada feito vela de xangô
em frente ao sorriso de leila diniz
está ali
minha vida inteira
numa sala
de apartamento alugado no final da asa norte







carrego poemas
como rochas
peso bem pesado
me arrasto em noites vãs
páginas por páginas
rabiscadas e sozinhas
são só palavras
efêmeras como um espanto
ou saudade
que insiste em ficar
palavras bem pesadas
chegam a entortar o corpo
levo poemas
como quem carrega um caixão
na mochila...






frio, corpo em silêncio
passos pesados. do outro lado do planeta:
minha casa













José Carlos Vieira é poeta. Lançou o primeiro livro (em mimeógrafo) em 1976, aos 16 anos, intitulado "Zé", desde então, são doze publicações. Formado pela Universidade de Brasíia (UnB) em jornalismo (e também em publicidade) é editor de Cultura do Correio Braziliense. Estes poemas são de seu último livro Você — Poemas de paixões e coisas parecidas, Editora Pergunta Fixar, 2019.








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