Três poemas de Fabíola Mazzini










Um dia de sol perfeito
No silêncio amarelo claro

Ao longe, o mar brilha
O pranto dos esquecidos

As lágrimas, o seu vasto sal
Morrem no regaço do silêncio

Eu espero na praia
Um refugiado pra salvar

Espero a esmo
Mas pronta a ser um oásis

Trago a retina densa e compacta
Como se afogada na areia

Espero como quem lança
Um encanto contra o mal

Espero como quem sonha
Ser mais que mera espera

Espero contra o tempo
Sou resposta imperfeita sob o sol









a  conversa a toda
e eu insisto em olhar as traças na parede
a moça ao lado tem manchas na pele
um vermelho fosco de nervoso
a porta range uma alegria sem carne
as pessoas bebem muita água
mas não esquecem os olhos atrás das janelas
não são dragões, são gente
as pessoas não conhecem Rimbaud
nem vão partir pra Aden, Abissínia
e sentar sobre o alpendre
ficarão nesta sala perto do eternamente
em torno da mesa
de qualquer ponto da sala, não são visíveis todas as janelas
mas todos sabem dos olhos lá fora
as pessoas não conhecem Bandeira
nem vão embora pra Pasárgada
com os olhos lá fora, não vão a lugar algum
no íntimo, sua vida é maltrapilha e só
conversam a toda







Um truque é o olhar de viés
A fala pausada sobre amor
Um truque é esquecer por dois minutos
O garoto morto pela polícia
Um truque é uma perna mecânica
E a melodia dos pardais no fio teso
Um truque é procurar na página do meio
Daquele romance velho a mensagem do dia
Um truque é não morrer no esconde-esconde
Mesmo sem respirar e com medo do escuro








Fabíola Mazzini nasceu em Vitória-ES. É servidora pública. Tem poemas publicados na internet, em revistas, jornais e coletâneas. Seu livro “Rotina dos Ossos”, premiado com o 1º lugar em concurso da Secult-ES, será publicado em outubro.







Imagens: Noell Oszvald



Comentários

  1. Simplesmente espetacular!!!!!! Parabéns!!!!!!👏👏👏👏💕💕💕💕💕💕💕💕

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  2. Prazer em conhecer. Uma grande poeta é sempre um prazer conhecer. Uma necessidade. Obrigado.

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